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  • Clarissa Cavalcanti

Ragtime


E. L. Doctorow, autor do livro de agosto intitulado Ragtime, foi um norte-americano nascido no começo dá década de 30 em Nova York. Sua obra conta com doze romances, além de contos, peças teatrais e ensaios, e foi parcialmente traduzida para 30 línguas. Faleceu recentemente em 2015, nos seus 84 anos, e nesse momento foi considerado um dos grandes nomes da literatura americana contemporânea.

Um grande surpresa conhecê-lo, pois antes do kit da TAG minha literatura americana do século XX se restringia, de certa maneira, a Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e William Faulkner. Esses grandes nomes, os quais são considerados clássicos da literatura mundial, são de geração anterior à de Doctorow, e talvez por isso seu nome não seja tão conhecido como os destes.

Contudo, entrar em contato com esse livro foi de uma grande satisfação pois é um retrato autêntico, dramático e imprevisível do contexto americano de 1902 à 1912, período do pré primeira guerra mundial. Publicado em 1975, Ragtime pode ser considerado como uma narrativa histórica pois compreende-se muito dos aspectos que marcaram a sociedade norte-americana neste período através das relações sociais, o papel do Estado e os sentimentos exaltados pelos persongens. Ao mesmo tempo, é caracterizado pela interação de personagens reais e fictícios em ações as quais a veracidade extrapola o compreensível, ficamos suspenso entre a ficção e a realidade.

De fato a questão dos personagens é um dos fatos mais marcantes do livro. O eixo central perpassa uma família que habita New Rochelle, New York, constituída por Papai, Mamãe, Irmão mais novo da mamãe e Vovô. Assim são chamados e reconhecidos as pessoas que dão vida à história de Doctorow. Será que o fato de não identificar seus personagens através de nomes próprios está ligado com a tentativa de universalizar a experiência literária? Afinal, qualquer um pode ser Papai, qualquer um pode ser Vovô. É interessante, também, a interação destes personagens com os demais, pois os outros possuem nome próprio e alguns chegam a nos ser conhecidos: Freud, Evelyn Nesbit, Houdini, Emma Goldman e J. P. Morgan são alguns dos nomes que o autor traz para sua história, criando e especulando acerca de situações da vida de cada um desses nomes que marcaram o século XX americano.

O panorama crítico que o autor traça na obra é engajado com questões morais e éticas, perpassa movimentos sociais, como o feminismo e a luta por igualdade racial, momentos históricos, como a Revolução Mexicana e a Grande Guerra, movimentos artísticos e acontecimentos políticos globais. Nesse sentido, o autor faz uma grande mistura do micro com o macro, narrando situações específicas que dizem muito do contexto nos quais os acontecimentos estão inseridos. O empenho que possui em criar uma história na qual os eventos e personagens se conectam através de pequenos absurdos é o que dá a grande satisfação de ler tal obra.

A cada capítulo temos a história narrada por um personagem diferente e, assim, podemos compreender um pouco da vida e história de cada um deles. As partes (capítulos) compõe o todo, o qual parece ser a Nova York do início do século XX. É a partir desse entendimento que faz sentido questionar o título do livro. Ragtime foi o estilo musical que precedeu o Jazz, marcado por quatro tempos que se somam e pela polifonia. A partir de um tema, eram feitos os diversos improvisos que marcavam a imprevisibilidade de como a música terminaria. Assim, a grande questão do livro parece ser o fato de E L Doctorow brincar com a preponderância desse estilo musical nos EUA à época e compor seu livro a partir da estrutura musical que define tal estilo. É a síntese do que ele propõe: uma polifonia de vozes que dão vida a sua história; o improviso dos fatos, os capítulos divididos em quatro partes.

A literatura tem dessas belezas: as possibilidades de brincar com as palavras, as formas e os sentidos. Abri o livro esperando um história completamente diferente daquela que li, e essas surpresas são o que dão à literatura toda a graça de ser explorada e vivida, imprevisibilidade e poesia em cada linha, em cada palavra.

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