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  • JOSÉ LUIZ OREIRO

Lisboa, Oreiro e Fragelli sobre a Desindustrialização no Brasil (O Globo, 05/03/2018)


Palavra de especialistas

O Globo – 05/03/2018

Marcos Lisboa – Economista e presidente do INSPER

O Brasil optou, em diversos setores, por fazer no país a maior parte da produção, com regras de conteúdo nacional, tentando ter a cadeia inteira aqui. Isso vai na contramão do que o mundo faz, que é identificar áreas em que se é muito eficiente. Nas demais, compra-se de quem faz melhor no mundo. Além disso, o conceito de indústria mudou muito. Hoje, as atividades são muito mais fluidas. A Apple é indústria ou serviço? A parte que gera imenso valor de mercado não tem fábrica. A montagem (na China) vale poucos dólares. O grande valor está na concepção. Sobre política industrial, tivemos uma concepção equivocada. Os problemas fundamentais que prejudicam a produção no Brasil fora da fábrica não foram enfrentados. Nossa estrutura tributária é muito mal desenhada, muito complexa e gera muito litígio. E, no entanto, essa é uma agenda que as lideranças empresariais não adotaram. As lideranças pedem crédito subsidiado e menos impostos. Criamos uma agenda muito equivocada.

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José Luís Oreiro – Professor do Departamento de Economia da UNB

Acho que já não se coloca mais a questão se há desindustrialização ou não. Esse processo se acentuou a partir de 2008. Os defensores de que havia ganharam o debate. A desindustrialização não só está ocorrendo, como reduz as perspectivas de crescimento da economia brasileira. Portanto, fora a retomada cíclica do nível de atividade, que já está posta, é preciso enfrentar essa questão para que o Brasil possa crescer a uma taxa mais robusta e sustentada. Em relação às políticas industriais, se não houver taxas de câmbio e de juros competitivas, é enxugar gelo. Nenhuma das três que tivemos obteve sucesso no que se refere a reverter esse processo, porque foram colocadas num cenário em que os preços macroeconômicos estavam sistematicamente fora do lugar. O segundo ponto é que foram políticas que não tinham desenhados dentro delas mecanismos de contrapartida. O BNDES assumiu um gigantismo em 2008, em função principalmente da crise financeira internacional, quando desapareceram as linhas internacionais de crédito. Só que, depois, durante o governo Dilma, isso passou da conta.

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Renato Fragelli – Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas/FGV

Vivemos no país dos lobbies. O servidor diz que tem direito, o empresário diz que tem direito… Cada um puxando a sardinha para o seu lado. Essa discussão da pseudo desindustrialização é simplesmente um evento desses lobbies. Temos uma indústria no Brasil que vem diminuindo sua participação no PIB, mas esse fenômeno não é só brasileiro. Existe um ciclo regular. Um país passa por um período de industrialização, em que a população sai do interior, vai trabalhar na indústria, o país enriquece. Chega uma certa hora em que o país atinge uma determinada renda e começa uma migração natural para o setor de serviços. Essa queda da indústria no PIB era previsível. É observada em vários países. A indústria brasileira hoje sofre mais que os outros setores. O de serviços é naturalmente muito protegido, precisa ser prestado no próprio local. A agricultura é particularmente produtiva. O setor ruim no Brasil é a indústria, porque é muito intensiva em mão de obra qualificada. O Brasil, quando resolveu se industrializar, não deu prioridade à educação.

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