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Arthur Mesquita Camargo

Por que não faz sentido dar ratings para as Criptomoedas


Ontem, dia 24 de Janeiro de 2018, a agência americana de rating independente, Weiss Ratings, lançou, pela primeira vez, uma classificação de risco para as moedas criptográficas. Segundo a agência, a metodologia considera como pontos a serem avaliados o “risco, inovação tecnológica e outros fundamentos”.

Por um lado, a medida é interessante e pode ser considerada como um grande grande passo para o mundo das moedas digitais, na medida em que fornece mais informações aos investidores, possibilitando a construção de modelo de gerenciamento de riscos e de alocação de ativos mais adequados.

Por outro lado, não faz sentido uma agência de rating dar notas às moedas digitals. Tradicionalmente, a opinião das agências de rating de crédito, como Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, são divulgadas sob a forma de letras de crédito, e procuram avaliar a capacidade das empresas se tornarem inadimplentes, minimizando o risco de crédito dos ativos financeiros (Minardi; Kanandani, 2013).

Veja bem, rating é uma opinião sobre a capacidade futura, a responsabilidade jurídica e a vontade de um emitente de efetuar, dentro do prazo, pagamentos do principal e juros de um título específico que gere renda fixa ou variável (Moddy’s, 1999).

Em geral, uma moeda digital não possui RISCO DE CRÉDITO, não gera retornos financeiros, não cria direitos ou deveres entres as partes e não é considerado um ativo financeiro, portanto, qual o sentido de avaliar a capacidade futura, responsabilidade jurídica e a vontade de um emitente de pagar por algo que não deve?

Segundo a Standard & Poor’s (2008), uma das principais agências de rating mundiais, a classificação de risco é uma opinião quanto à qualidade geral do crédito relativamente a um determinado título de dívida ou outra obrigação financeira, com base em fatores de risco relevantes(Brito; Assaf Neto; Corrar, 2009).

Que dilema, não? Ao que parece a Weiss Rating está usando sua condição de agência de rating para comercializar a opinião sobre o risco de mercado das moedas, o que, a priori, não parece ser suficiente para gerar a credibilidade necessária e algo muito arriscado, por sinal.

Culturalmente, as agências tem uma política clara de que “uma avaliação de crédito nunca deve ser interpretada como indicação de investimento, pois não estima outros riscos, como os de mercado e o operacional” (Damasceno, Artes, Minardi, 2008).

Muito embora as metodologias de avaliação de crédito possam servir para precificar ativos e mitigar os riscos, fica difícil entender a medida da Weiss como sendo uma avaliação sincera e profunda sobre os fundamentos tecnológicos e financeiros. Ao que parece, a jogada tem apelo muito mais comercial do que informacional.

Analisando a metodologia da Weiss, percebemos a peculiaridade de seu método de análise, o que, de certo, vai de encontro aos tradicionais métodos de avaliação fornecidos pelas agências de rating de relevância internacional que buscam avaliar o negócio com base em métodos qualitativos e quantitativos, utilizando não só as premissas de mercado como as informações financeiras, organizacionais e patrimoniais.

Resumidamente, a avaliação da Weiss leva em consideração os seguintes índices: a) de Risco; b) de recompensa; c) tecnologia; e) fundamental. O primeiro índice leva em consideração basicamente as flutuações de preços; desvio-padrão e variâncias; e, a tendência de mercado. O segundo, utiliza os retornos em comparação com médias móveis e retornos (com base em quê?). O Terceiro, melhor elaborado, avalia o nível de anonimato, as capacidades de governança, atualização, eficiência energética, soluções de dimensionamento e interoperabilidade com outras cadeias de bloqueio. Por fim, o índice fundamental mede a velocidade e a escalabilidade das transações, a penetração do mercado, a segurança da rede, a descentralização da produção de blocos, a capacidade da rede, a participação do desenvolvedor e a aceitação pública.

Ao que parece, o método da Weiss leva em consideração apenas dados mercadológicos e comportamentais, algo muito mais próximo de uma análise técnica-estatística do que uma análise fundamentalista, diferente dos métodos tradicionais de avaliação que observam, por exemplo, os impactos macroeconômicos, governamentais e setoriais.

Embora a tentativa da Weiss demonstre algumas fragilidades do ponto de vista teórico, não podemos desconsiderar ou desmerecer o mérito da atitude da agência de informar seus clientes. Informação boa ou ruim, a verdade é que precisamos de mais informações de qualidade para que o mercado consiga se amadurecer como um todo.

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