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  • Daniel S Balaban

Quando vamos definitivamente sair da “Caverna de Platão”?


Platão, em sua obra “A República”, brinda-nos com uma metáfora conhecida como a “Alegoria da Caverna”. Ela fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de figuras que representam animais, objetos, pessoas, etc., mostrando cenas cotidianas. Na alegoria, o filósofo descreve uma situação onde indivíduos estavam condicionados a aceitar um simulacro como realidade.

Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens nas sombras, analisando e julgando as situações. Se um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo, entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por objetos. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais, etc. Entretanto, ao voltar para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos, seria desacreditado e ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros chamam-no de louco; ameaçando-o de morte, caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.

Os seres humanos tem uma visão distorcida da realidade. Os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos, hábitos e informações que recebemos durante a vida. A caverna simboliza o mundo, pois nos são apresentadas imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a realidade quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou seja, quando saímos da caverna.

E como, afinal, podemos sair da caverna? Somente po meio do conhecimento, da educação e do senso critico é possível captar a existência do mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecido somente através da razão).

Tal metáfora não poderia estar mais atual. Hoje nos deparamos com a informação, pouquíssimo repercutida dentre os meios de comunicação convencionais (responsáveis pelas sombras projetadas nas paredes da caverna), de que as desigualdades sociais no mundo atingiram números impressionantes, ou seja, 8 pessoas tem a mesma riqueza que 3,6 bilhões de habitantes do planeta, metade da população mundial. E que esse abismo social vem crescendo, como apontou Thomas Piketty, economista que ousou pesquisar o assunto, publicado na obra “O Capital no Século XXI”. A partir desse quadro, pergunta-se: para onde a sociedade está indo? Essa situação é sustentável? Até quando conseguirão manter os prisioneiros confortáveis no fundo da caverna?

Esse foi um dos principais temas discutidos durante o Fórum Econômico Mundial em janeiro deste ano em Davos, e é também tema de um dos ODS, Objetivos de Desenvolvimento Sustentavel, ODS 10, voltado para reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. Todos ODS têm metas especificas. Nesse caso, o ODS 10 tem 7 metas e 3 submetas.

Lembremo-nos que os ODS foram acordados e assinados pelos 193 Estados-Membros da ONU, incluindo o Brasil. A idéia é que todas as políticas públicas e planejamentos estratégicos de países tivessem ligação com os Objetivos traçados. Seria importante que todos da caverna dessem uma lida e cobrassem quais politicas têm sido desenvolvidas para o atingimento dessas metas no Brasil.

Ainda dá tempo de sairmos da escuridão da caverna. Como nos ensina Platão, uma vez libertos, os indivíduos sofrem de uma espécie de cegueira temporária e dolorosa, ate se adaptarem à luz, fazendo com que haja uma “saudade” do conforto da escuridão. O mais importante, no momento atual, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo, é que saibamos que ao sairmos da caverna ficaremos desconfortáveis, até um pouco cegos. Que essa cegueira temporária não nos impeça de ver a realidade com clareza e senso crítico, para que possamos agir em direção ao aperfeiçoamento de nossa sociedade, e que jamais voltemos à escuridão do fundo da caverna.

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