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  • JOSÉ LUIZ OREIRO

Nota sobre a decisão do Copom


O BCB acabou de anunciar uma nova redução de 0,25 p.p da taxa básica de juros após o término da reunião do COPOM, realizada ontem e hoje em Brasília. A meta da selic está agora em 6,5% a.a, o menor valor da série histórica. Ao anunciar a redução da meta da taxa selic, o BCB acenou com a possibilidade de uma nova redução da taxa de juros na reunião de maio. No comunicado após a reunião do COPOM, o BCB afirmou que a flexibilização adicional da política monetária é necessária para garantir a convergência da inflação com relação a meta de 4,5% a.a para a variação do IPCA em 2018 e 4,25% a.a em 2019.

A continuidade do ciclo de afrouxamento monetário é sintoma claro da fraqueza da recuperação do nível de atividade econômica. Apesar do “otimismo irracional” exibido pelo ministro-candidato Henrique Meirelles, dificilmente a economia brasileira vai apresentar um desempenho robusto ao longo do ano de 2018. Com efeito, há exatos oito meses consecutivos que a variação do IPCA acumulada nos últimos 12 meses roda abaixo do piso do centro da meta de inflação para 2018, igual a 3% a.a. Os dados do IBC – o índice de atividade do Banco Central – para o mês de janeiro deste ano apontaram para uma contração de 0,56% no nível de atividade no primeiro mês de 2018. Além disso, os contratos de aluguel com reajuste em março de 2018 apresentam variação negativa, indicando deflação nos preços dos aluguéis. Por fim, ainda existem quase 13 milhões de desempregados no Brasil e a Instituição Fiscal Independente estimou, em estudo publicado no início do corrente ano, que o hiato do produto existente no final de 2017 ainda se encontrava perto de 6% (http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/536764). Todos esses fatores apontam para a continuidade do quadro desinflacionário, o qual demanda uma política monetária expansionista.

Ao contrário do ocorrido em outros momentos da história recente do país (por exemplo, após a eclosão da crise financeira internacional de 2008), a política monetária tornou-se a única política que se encontra num estado claramente expansionista. Com efeito, desde meados de 2016 que o crédito concedido pelo BNDES está sendo contraído devido a política de redução do tamanho do banco, implementada no governo Temer, por intermédio da devolução dos empréstimos do Tesouro a essa instituição de fomento. Além disso, a aprovação da emenda constitucional do teto dos gastos (EC 95) impede a adoção de uma política fiscal expansionista. Como a política de crédito e a política fiscal estão no campo contracionista ou neutro, não resta outra opção para se estimular a atividade econômica que não a redução agressiva da taxa básica de juros. Essa é a razão pela qual a Selic (nominal) se encontra em sua mínima histórica, sem que ainda se observe pressões inflacionárias consistentes que sinalizem a reversão do ciclo atual de flexibilização da política monetária.

Nesse contexto, não é improvável que o BCB continue o ciclo de redução da taxa básica de juros levando-a a um patamar inferior a 6% a.a. Ao que tudo indica os juros baixos vieram para ficar, ao menos por um bom tempo.

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