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  • André Luiz Cordeiro Cavalcanti

Economias Emergentes e o Eterno Dilema: Meu PIB é Pequeno?


Uma das primeiras coisas que os estudantes de economia aprendem é como se efetua o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB também é um conceito central em muitos debates políticos.

Será que ele vai subir? Vai cair? Que efeito isso terá em nossas vidas? É PIBinho ou PIBão?

O Produto Interno Bruto mede o valor total dos bens produzidos e os serviços prestados em um país, calculando o valor agregado líquido por "ator" econômico. Então, se você produzir um carro vendido por 100.000, mas você comprou peças e materiais no valor de 30.000, sua contribuição para o PIB é de 70.000. O PIB avalia o tamanho de uma economia, bem como os rendimentos que gera e o ritmo em que cresce (ou encolhe) ao longo do tempo.

Um novo livro do jornalista de economia David Pilling sugere que, em alguns países em desenvolvimento, o PIB se tornou uma obsessão nacional - e com bom motivo. O PIB de uma nação pode atrair investimentos estrangeiros, ou assustá-lo.

Mesmo nas economias desenvolvidas, a incapacidade de aumentar o PIB anualmente pode ter repercussões econômicas e políticas negativas. Mas, apesar do seu amplo uso, há problemas em atribuir tanta importância ao PIB.

Qualquer livro de economia admitirá que o PIB é falho quando se trata de medir a produção em uma economia. (Um dos primeiros a destacar este fato foi o economista que o inventou, Simon Kuznets, que em 1934 advertiu o Congresso dos EUA sobre a inexatidão fundamental de seus cálculos e a inadequação do PIB na avaliação do verdadeiro bem-estar de uma economia).

Um dos problemas é que o mercado negro, os pagamentos em dinheiro e a evasão fiscal são excluídos dos cálculos do PIB. Imaginem quanto poderia subir o PIB do Brasil se colocássemos em seu cálculo a evasão de divisas para o exterior, a corrupção e o crime organizado. Gostaríamos de incluí-los, mas simplesmente não temos os dados.

Uma segunda questão é o número de itens não monetizados produzidos em uma economia. Uma piada entre os economistas diz que se você se casar com seu dentista o PIB cairá. Um serviço pelo qual você pagava agora se torna gratuito e, portanto, não fará mais parte do PIB. O mesmo se aplica às atividades não cobráveis, como cozinhar alimentos em casa.

Uma outra limitação diz respeito a bens públicos. Os economistas ainda não sabem lhe dar com a contribuição econômica do exército ou de uma escola publica primária, por exemplo. Em muitos casos o cálculo é feito apenas somamos o custo de um bem público no cálculo do PIB, mas isso é claramente errado.

Um bem público pode custar pouco e agregar um enorme valor à economia (imaginem as Universidades e suas pesquisas), ou custar muito e destruir valor da economia (não pensem no Congresso, por favor!!!)

Há também a dificuldade de medir a contribuição econômica dos serviços bancários e financeiros. Para capturar o valor produzido pelos bancos, os estatísticos usam o conceito de "spread" - a diferença entre a taxa de juros sobre um ativo sem risco e a taxa de empréstimos. Em seguida, eles multiplicam isso pelo número e valor dos empréstimos em uma economia. No entanto, na crise financeira de 2008, os spreads aumentaram devido à incerteza, fazendo com que a economia pareça estar produzindo mais de serviços financeiros do que antes. E realmente não estava.

E enquanto o PIB não nos fornece uma imagem precisa da atividade econômica, ele falha ainda mais em ilustrar o nosso verdadeiro bem-estar. Este é um dos principais argumentos no novo livro do Pilling, The Growth Delusion .

Quando a BP derramou petróleo no Golfo do México em uma grande catástrofe ambiental em 2010, o PIB nos EUA aumentou como resultado das despesas com o trabalho de recuperação. Da mesma forma, reduzir a floresta amazônica geralmente aumenta o PIB na região.

Nesses casos, a economia parece mais forte (de acordo com as medidas do PIB), apesar de danos claros ao planeta. Na verdade, quase nada aumentaria tanto o PIB de um país do que uma guerra - com todas as despesas do governo e a produção frenética que ela traz.

Outra limitação importante é que a desigualdade não é retratada no PIB. Em um mundo onde 1% da população possui mais de 50% da riqueza, talvez devêssemos perguntar quem se beneficia da atividade econômica - e não apenas a quantidade de atividade econômica que existe.

Mas o PIB não é ruim. Pode não ser completamente preciso, mas os dados e as medidas melhoraram ao longo dos anos. E nunca foi concebido para capturar o bem-estar da nossa sociedade e a sustentabilidade ambiental a longo prazo, por isso não podemos culpá-lo por isso.

Mas o problema ainda persiste. A grande figura do PIB atrai a atenção, gravita em direção ao centro dos debates econômicos e, em última instância, mascara as questões mais fundamentais em nossas economias e sociedades. Falar sobre as limitações do PIB é um bom passo, mas não é suficiente. O poder da simplicidade do PIB acabará por vencer de novo.

Como sugere a Pilling, o que realmente precisamos é outro índice. Para esse fim, uma série de ideias foram propostas por acadêmicos, como por exemplo as Nações Unidas e o governo do Butão, que defendem a medida da felicidade.

Mas seja qual for o índice (ou combinação) que escolhemos, para ser útil, ele deve ser acessível ao público em geral e muito fácil de usar. Então, como cidadãos, poderíamos pedir que nossos políticos visem maximizar algo além do PIB.

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